Incisão no Tempo: Obras do Acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar no Museu do Côa

Incisão no Tempo: Obras do Acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar no Museu do Côa

O Museu do Côa apresenta a exposição de Júlio Pomar, Incisão no tempo, com curadoria de Sara Antónia Matos e Pedro Faro, resultante de uma parceria entre a Fundação Côa Parque e o Atelier-Museu Júlio Pomar. Trata-se do primeiro grande evento do Museu do Côa, em 2018, que assinala a abertura das comemorações do vigésimo aniversário da classificação da Arte do Côa como Património da Humanidade, pela UNESCO.

A exposição integra um núcleo de gravura de Júlio Pomar permitindo estabelecer uma relação com as gravuras do Côa e, de certa forma, fazer jus à afirmação de que o artista pode ser entendido como «a contemporaneidade» das gravuras dos antepassados do Vale do Côa. O autor já visitou o Museu do Côa, assim como outros sítios de arte pré-histórica na Europa. Como o próprio conta na entrevista que deu ao Atelier-Museu em 2014, publicação com o título Júlio Pomar: O Artista Fala… Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro, a experiência de choque que teve frente às gravuras rupestres deu-se sobretudo em Altamira e em Lascaux.

«Antes do Côa, eu tive a hipótese de estar em Altamira e em Lascaux, quando ainda se podiam visitar esses sítios. Para ser franco, não estava a apostar muito no que ia ver e, de repente, tive um choque. Pensei que me ia deparar com “registos do tempo”, de fraco impacto. Claro que as “marcas” têm sempre um lado de passado, mas o que aconteceu foi que a dada altura me senti completamente ultrapassado. (…) Mas ali, houve e há qualquer coisa que ultrapassa a nossa temporalidade, uma espécie de inscrição de um arquétipo, que está para além das épocas e que, por isso, torna a coisa sempre actual. Deslumbrou-me a extraordinária contemporaneidade do gesto que levou a inserir na rocha, o traço, o volume, a cor.»

Nos diferentes núcleos de obras de Júlio Pomar aqui presentes, percebemos que a forma detém um «poder alquímico», entre o ser e o aparecer. São imagens pairantes que, nesta exposição, habitam e demonstram a abundância da existência, num alerta tentador e provador sobre a força da vida e, sobretudo, da arte.

Sobre o artista:

Júlio Pomar nasceu em 1926 em Lisboa. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto, tendo participado em 1942 numa primeira mostra de grupo, em Lisboa, e realizado a primeira exposição individual em 1947, no Porto, onde apresentou desenhos. Nesses anos a sua oposição ao regime de Salazar acarreta-lhe uma estada de quatro meses na prisão, a apreensão de um dos seus quadros pela polícia política e a ocultação dos frescos com mais de 100 m2, realizados para o Cinema Batalha no Porto. Permanece em Portugal até 1963, ano em que se instala em Paris. Actualmente vive e trabalha em Paris e Lisboa. No início da década de noventa, uma estada no Alto Xingú, na Amazónia, está na origem das exposições Los Indios(Galeria 111, ARCO, Madrid) e Les Indiens (Galerie Georges Lavrov, Paris), em 1990, a que se segue Pomar/Brasil, antologia organizada também pelo CAM e apresentada em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa.