Em 1995, Portugal viveu um momento decisivo da sua história cultural. A descoberta da Arte do Côa – a maior coleção conhecida de Arte Paleolítica ao ar livre no mundo, desencadeou uma ampla mobilização social, política e cultural, simbolizada sobretudo no movimento estudantil e com a adaptação musical “As Gravuras não Sabem Nadar” em nome da preservação de um património único e insubstituível. Em risco estava a construção de uma barragem que ameaçava ocultar milhares de rochas gravadas desde à cerca de 30 mil anos.
Foi nesse contexto que o setor artístico português se uniu de forma exemplar, contribuindo com aquilo que tem de mais precioso: a criação. Num gesto coletivo de grande generosidade e consciência patrimonial, reconhecidos artistas como Ângelo de Sousa, Julião Sarmento, Mário Cesariny, Pedro Calapez, Ilda David, Pedro Cabrita Reis, Alberto Carneiro, Lourdes Castro, José Pedro Croft, entre muitos outros, cederam obras suas para um leilão de apoio à causa da Salvaguarda das Gravuras do Côa.
Mais do que um testemunho artístico desta luta singular, esta coleção representa um gesto de solidariedade, um compromisso com os valores universais da preservação, da memória e da identidade.
Hoje, a Fundação Côa Parque é a casa natural desta coleção e assume com honra a responsabilidade de acolher, valorizar e divulgar este acervo, que continua a lembrar-nos que há causas que transcendem o tempo e que a arte tem o poder de as eternizar.
