Na longa duração, a produção artística de Sobral Centeno, exposta em várias séries (e sub-séries) que a podem datar, num quadro de alusões e coerências propõe-nos, num suposto fechamento, uma abordagem às vivências e referências a várias latitudes e geografias e causas. A “causa” desta exposição, “O Douro à tua frente”, visa, necessariamente ser um hino, uma homenagem às gentes durienses, aos seus lugares de memória, aos tempos da infância do próprio Artista. Sempre o gestualismo marcou as obras de Centeno, os valores de expressão (de sentimentos profundos) que a paleta, normalmente restrita, acentuava. Mas, agora, a ênfase dos negros, suas gradações ou diluições (as aguadas) acentuam a visão de um Douro mais agreste (necessariamente mais perto de Miguel Torga) onde cabem o rio fundo, as margens sombrias (de poucas alegrias), as montanhas, as velas e as barcas (de naufrágios) e, mais longe, capelinhas e cruzes (de salvação e morte)… O tratamento da cor, as pinceladas expressivas, neste quadro mental, estabelecem nexos ou referências prováveis a Hartung, Yves Klein, nas referências cultas e nos gestos quase impuros. A escala de alguns trabalhos, na sua infinda horizontalidade, instala, ainda, na exposição a ideia da panorâmica, uma outra forma de ver e rever. Mais uma cruzada vencida de Centeno?…
António Cardoso
Prof. Jubilado da FLUP Diretor do Museu Amadeo de Souza-Cardoso – Amarante