Desde 2014 que Manuel Botelho (Lisboa, 1950) fotografou obsessivamente a escultura tumular portuguesa, percorrendo o país numa aventura que se iniciou no Mosteiro de S. Marcos em Coimbra. Sem intuito de ilustrar ou catalogar o tema, estas fotografias representam uma procura por uma permanência de algo que está destinado a se transformar em pó. Representam também o que está para além da pedra, algo espiritual, atemporal. Simbolizam toda a humanidade, em silêncio, cruzando os tempos.
O silêncio é também um dos temas centrais da sua mais recente serie Negro de Fumo. Abismado e fascinado, repelido e atraído pelos fogos que devastaram o nosso país em 2017, Botelho fotografou as paisagens à volta de Tondela durante mais de um ano. Um espetáculo aterrador e, simultaneamente, de uma extrema beleza, onde a crueza dos negros (de fumo)contrastava com uma inexplicável riqueza cromática das árvores e arbustos queimados.
Ambas as séries abordam o tema da morte, do desaparecimento. Falam do tempo e da inevitável transformação por ele imposta a todas as coisas, ao mesmo tempo que dão também corpo a um desejo de imortalidade.